Uma breve análise sobre o combate a pirataria no Brasil.

Entrelinhas Gestão Esportiva
5 min readMay 12, 2022

Recentemente, o GloboEsporte.com nos trouxe uma matéria muito importante baseada em pesquisa encomendada pela IPEC e realizada pela Associação pela Indústria e Comércio Esportivo, a ÁPICE, alertando sobre os impactos da pirataria no mercado esportivo e muitos são os percalços que se enfrentam no dia a dia do esporte, por isso, não se pode “passar pano” para o ato, afinal o mesmo é crime previsto por lei, “Compra ou venda deprodutos falsificados, artigo 184, decreto-lei N°2.848/40 do Código Penal brasileiro”. mas é importante buscar entender este fenômeno, estudar os motivos e como contorná-los para que todos fiquem satisfeitos e felizes.

O principal ponto da pesquisa é a constatação de uma massiva perda de receita importante para os cofres dos seus stakeholders e para a cadeia esportiva, um prejuízo de 9 bilhões de reais em 2021. É necessário refletir acerca dos motivos pelo qual parcela considerável de fãs/consumidores costumam comprar produtos piratas e quais os fatores que os influenciam.

Um dos grandes vilões, sem dúvidas, é a condição financeira do país e do fã, com o país em grave crise financeira e a população lutando contra a mesma, o fã encontra uma dificuldade maior de ter poder aquisitivo para comprar a camisa do seu time do coração, por exemplo, vale pontuar também que muito por conta dos próprios clubes cobrarem valores altos em seus enxovais, e que representam uma fatia considerável de um salário mínimo. Observando pela ótica do momento econômico e como atingir mais públicos que talvez desejem consumir, porém não tem condições de investir valores altos, dois cases se tornaram importantes ser observados e estudados.

Cases

Em 2019, Cascavel e Fortaleza que lançaram um projeto de venda de camisas populares para o seu torcedor, o clube paranaense barateou bastante o valor com camisas por menos de 30 reais e, aproveitando o momento bom do time no estadual daquele ano, conseguiu superar a meta estimada vendendo o dobro da quantidade planejada em 2 meses de campanha.

Já o Fortaleza lançou sua camisa popular e além de buscar a atenção do seu torcedor que ganhou um desconto na hora de comprar a camisa oficial, ao trocar por uma camisa pirata, foi buscar também o vendedor ambulante, que sobrevive muitas vezes da venda destes produtos. Devidamente identificados pela central de vendas do clube, esses ambulantes puderam comprar as camisas a preço de custo e puderam trabalhar nos arredores da Arena Castelão vendendo camisas populares. O clube projetou para o primeiro momento a fabricação de 4500 unidades e essa ação se repetiu ainda no ano de 2020.

A pouco menos de um mês o Paysandu realizou uma ação muito importante, entrando firme no combate a pirataria, a campanha “Tira a pirata, veste a Lobo” foi um verdadeiro sucesso, gerando grandes filas nas lojas oficiais do clube. A campanha consistiu na venda de camisas da coleção Constelação de 2021 por 50 reais, além da possibilidade do torcedor reciclar sua camisa falsificada.

Além do enorme engajamento da torcida como podemos constatar no vídeo abaixo, a campanha também foi um sucesso de vendas, o clube arrecadou cerca de 500 mil reais em vendas, sendo 10 mil camisas vendidas no primeiro dia de campanha.

Todas essas campanhas têm um ponto em comum; baratear e popularizar o acesso de seus produtos, no caso as camisas, para seus torcedores com menor poder financeiro e assim fazê-los se sentir parte dessa comunidade, além do fato de incluir os vendedores ambulantes na ação valorizando o esforço e a vontade de quem trabalha, mesmo na informalidade, mas que necessita dessa ocupação e dessa verba.

Investimento em tecnologia

Na mesma reportagem do ge.com é apontado como o Flamengo conseguiu reduzir o impacto da pirataria em seus cofres, sobretudo no ambiente online.

A partir de uma parceria com uma de suas patrocinadoras, a Mercado Livre, com um escritório especializado, buscou identificar e denunciar anúncios na internet, sobretudo em plataformas de marketplaces e redes sociais. Em 2021 foram identificados 50.274 anúncios de produtos falsificados contendo um prejuízo de mais de 18 milhões de reais, dinheiro que faz muita diferença para a cadeia produtiva do esporte.

Conclusão

Com isso concluímos que combater a pirataria é um trabalho constante que deveria ser abraçado pelos clubes, a situação é muito complexa de fato, mas é necessário apertar o cerco principalmente porque é um concorrente forte da cadeia esportiva (clubes, modalidades, marcas esportivas) na arrecadação de receitas de venda de seus produtos oficiais. É necessário observar também que existem fatores que dificultam seus fãs a ter um material ou produto oficial, desde altos preços, a distribuição precária, afinal estamos em um país continental cheio de diferenças sociais e que não podemos julgar esse movimento do consumidor, mas é necessário olhar para o mercado na sua totalidade e buscar soluções, pois sabemos que o produto oficial do seu clube coração é um elo afetivo muito mais forte do que apenas um mero objeto.

Dados

  • Em 2021 o governo deixou de arrecadar 2 bilhões em impostos por conta da pirataria.
  • As empresas do segmento de artigos esportivos somam 9 bilhões em perda de receita, sendo 33% do mercado brasileiro ilegal.
  • 50% dos entrevistados que compraram artigos esportivos em 2021, comprou ao menos uma peça pirata. Já 17% só compraram itens falsificados.
  • Cerca de 40 milhões de pessoas compraram algum item falsificados no Brasil em 2021.
  • 1 milhão de produtos piratas são adquiridos a cada 2 dias
  • 136,4 milhões de produtos piratas são vendidos no varejo físico (86,6%)
  • 13,4% dos produtos são vendidos online, correspondendo 21 milhões de produtos

Dados de pesquisa encomendada pela Apice( Associação pela indústria e comercio esportivo) á Inteligência em Pesquisa e consultoria.

Fontes

https://ge.globo.com/pr/futebol/times/fc-cascavel/noticia/fc-cascavel-vende-20-mil-camisas-em-dois-meses-e-cidade-vive-clima-de-decisao-no-paranaense.ghtml

https://istoe.com.br/fortaleza-lanca-camisa-popular-a-r-5990-para-combater-pirataria/

https://www.oliberal.com/esportes/paysandu/paysandu-ja-arrecadou-mais-de-r-500-mil-com-promocao-de-camisas-iniciativa-continua-ate-o-dia-9-de-abril-1.515836

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