O valor da identidade regional.

Entrelinhas Gestão Esportiva
3 min readOct 14, 2021

A volta das torcidas ao estádio vem sendo acompanhada de diversas restrições, afinal a pandemia não acabou. Uma destas restrições diz respeito a presença de torcida visitante no estádio, que permanece proibida, e suscitou recentemente debates acalorados na internet, quanto a “invasão” de torcedores visitantes em setores destinados à torcida da casa. Esse debate cresceu e acabou tornando-se uma bola de neve que precisou ser desmentida e esclarecida por parte da mídia local na região.

Os clubes do “eixo”, como são popularmente chamadas as equipes de RJ-SP, possuem uma presença massiva em todas as regiões do país, por diversos fatores históricos-culturais, entretanto esta presença nem sempre foi/é bem recebida pelos torcedores nordestinos, que possuem uma forte identidade regional/estadual, e cabe aqui reforçar que dentro dessas identidades existem dezenas/centenas de ramificações que diferenciam estes torcedores entre si e os tornam “únicos”.

E porquê estamos falando dessa presença massificada de clubes sudestinos em nossa região?

Recentemente algumas equipes do eixo vieram jogar em nossa região e os torcedores locais dessas equipes externaram na internet suas intenções de comprar ingressos das torcidas dos clubes locais para torcer pela equipe visitante, isso acabou desencadeando discussões e debates acalorados, que geraram diversas reações entre quem era contra ou favor, existindo pessoas que defendiam, dentre outras coisas, a violência como solução. Somado a este fato, um torcedor foi agredido por torcedores uniformizados, após a partida entre Fortaleza x Flamengo, no último final de semana, e surgiu o “boato” de que este era um Flamenguista. Parte da mídia esportiva e alguns torcedores entraram em ebulição com tais atitudes e aproveitaram para atacar parte de nossa identidade regional e pôr em cheque.

É necessário antes de tudo reforçar que a violência NÃO é a solução, nem NUNCA será, e falar isso sequer deveria ser necessário. A violência destrói vidas e gera consequências aos envolvidos, nada justifica, muito menos qualquer divergência futebolística. Posto isso, cabe ressaltar que o discurso tomado por algumas pessoas foi desmedido e egocêntrico, afinal ser contrário a violência seja ela representada nas vias de fato ou através do discurso de ódio, não dá o direito de querer deslegitimar e menosprezar um movimento de proteção regional e reforço de nossa cultura esportiva. Criou-se inclusive o termo “Xenofobia Reversa” que por si só já é ridículo, e não cabe nem a discussão, com isto também a torpe defesa pela democracia do torcedor escolher qual time desejar, o que em momento algum esteve em discussão, após separar o joio do trigo. Propagar e defender nossa identidade e nosso produto esportivo enquanto região e sub-regiões é necessário SIM, sem desmerecer outros, sem incentivar violência, ou diminuir quem pensar diferente, apenas valorizar o que é nosso! Essa defesa parte de um lugar de luta por relevância e por público, se a mídia esportiva, de modo geral, sempre esteve concentrada e direcionada ao que clubes do eixo, e de regiões próximas como RS e MG, o mínimo que nossas equipes podem e devem fazer é valorizar seus atributos, como a identidade nordestina, por exemplo.

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