O torcedor já vai poder voltar ao estádio?

Entrelinhas Gestão Esportiva
3 min readSep 24, 2020
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No texto desta semana em parceria com nossos amigos do Cadeira Central vamos debater sobre a possível e provável volta de público nos estádios brasileiros e o quão absurdo esta volta tende a ser.

Mesmo correndo o risco de parecermos repetitivos em temáticas ou críticas quanto aos rumos que o futebol nacional vem tomando, é inevitável o debate quanto a esta provável volta. O assunto ganhou bastante força recentemente após o sinal verde dado pelo Governo Federal para a volta parcial de público no estádio, até 30% da capacidade, com protocolos e medidas sanitárias variando de acordo com cada estado. A possível volta é discutida na data de hoje, 24 de setembro, pela CBF e pelos clubes da Série A, mas ainda deve ser consultada de acordo com a situação de cada Estado/Município.

Os defensores dessa precoce volta, sejam clubes, federações, profissionais, torcedores, dentre outros, se municiam dos mais diversos argumentos favoráveis, mas no fim do dia o que nos parece é que os interesses próprios, ou o simples descaso/distorção da realidade, sobrepõe qualquer racionalidade e desconsideram os riscos iminentes com esse retorno. Não se justifica uma volta do futebol sob o argumento de que “ah… mas tudo está voltando!”, primeiro porquê a velha máxima de que um erro não justifica o outro é bastante válida nesse contexto específico, pelo menos está é a nossa opinião, segundo vem uma questão que batemos na tecla em alguns textos nossos, que é o fator paixão. Paixão esta que pode, e muitas vezes faz, com que torcedores se comportem de maneira única e diferente de outros contextos, por exemplo. É incabível imaginar que milhares de torcedores irão por vontade própria ou mediante fiscalização, respeitar protocolos depois de um erro de arbitragem, um gol, o apito final ou inclusive nada, afinal o apoio da torcida ocorre durante toda a partida. Você acha mesmo que os torcedores vão gritar de mascara ou tentar apoiar com uma abafada voz pelo tecido que a protege do risco?

Para além dos 90 minutos, é válido lembrar que o esporte não se resume a sua prática, esporte é entretenimento e também cultura, porquê não? Então ainda que se adote todos os prometidos protocolos, controle o ímpeto de cada um do torcedor presente, o simples fato do futebol envolver uma série de rituais como o de reunir amigos antes do jogo, comer espetinho ou alguma outra “iguaria” nos entornos do estádio e a famigerada cerveja configuram momentos que não necessariamente envolvem o uso da mascará, e aumentam o potencial de risco que as pessoas que se predispuserem a participar dos jogos correm, basta ver a tabela abaixo, retirada do site da BBC, vale lembrar também o potencial destrutivo que uma partida pode ter, como a de Atalanta x Valencia, considerada uma bomba biológica de coronavírus na Itália.

Imagem — BBC

Tivemos em 2019 uma taxa de ocupação média de 47% na 1ª divisão do Campeonato Brasileiro, com uma média de público em torno de 21 mil espectadores. Agora imagine um cenário hipotético onde essa taxa de média de público se mantivesse proporcionalmente aos 30% de capacidade de cada estádio, quantas milhares de pessoas não estariam se expondo e expondo as outras com as quais convivem a um vírus ainda não controlado e sem vacina?

Nos resta esperar e torcer para que se faça o melhor para preservar a saúde e o bom-senso diante de todo o caos que ainda vivemos, infelizmente os prognósticos são diferentes e preocupantes e mais uma vez partem de iniciativas de interesses próprios antes dos coletivos.

Esse texto faz parte de uma “tabelinha” de conteúdo com o Cadeira Central, sigam eles e interajam com a gente, sua opinião é importante para mantermos o debate.

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